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Resenha da mesa-redonda - parte I

Atualizado: 6 de set. de 2023

A professora Manuela Oliveira abre o debate trazendo a temática da Linguística e o ensino de L.E., com ênfase no ensino-aprendizagem de língua inglesa, tendo em vista sua experiência enquanto professora de inglês no Ensino Básico e Superior.


Ela discutiu a importância do letramento crítico no contexto educacional, destacando a necessidade de capacitarmos os discentes não apenas para a leitura e escrita de modo mecânico e normativo, mas também para uma compreensão mais aprofundada dos textos, considerando suas intenções e contextos sociais. Ela enfatizou a relevância de desenvolvermos habilidades reflexivas nos estudantes para poderem entender o conceito de variação e validar toda variedade linguística como legítima, independente da língua tratada.


Referindo-se à teoria de Bakhtin, a docente destacou a influência social e ideológica na linguagem. Ela ressaltou que, ao entendermos que a linguagem é permeada por relações sociais, podemos promover interações que envolvam a negociação de significados, construindo assim o sentido na comunicação, já que o texto nunca é resultado de um único pensamento, pois remete sempre a outros textos. A relação de um indivíduo com outro idioma possibilita que ele se depare com uma mesma realidade encarada por outra perspectiva e entenda no que as culturas se relacionam. Um exemplo trazido é o da pronominalização do inglês, mostrando ser um debate não exclusivo do idioma mencionado, por isso levá-lo para as salas de aulas pode ajudar os alunos a relacionar essa questão a já existente em sua língua materna e ainda desenvolver o pensamento crítico.


É mencionado ainda a questão da identidade interlingual e da influência que a L1 tem no aprendizado da língua-alvo, pois procuramos aspectos em comum entre elas. Nesse processo, pode ocorrer a questão dos links diassistêmicos, que seriam as generalizações que os falantes bilíngues fazem ao aplicar a estrutura da língua-mãe na língua-alvo. É uma interseção que pode ocorrer nos níveis morfológicos, sintáticos, lexicais etc. Um exemplo dado pela palestrante é a frase "where you live?" — típica de falantes de português que estão iniciando no inglês —, que falta o verbo auxiliar para virar "where do you live?", pois aqui foi aplicada a estrutura literal da língua portuguesa "onde você mora?". Por isso, devemos considerar o contexto dos alunos para entender o porquê de suas escolhas linguísticas, pois elas podem até não ser intencionais, mas nunca serão aleatórias. Além disso, mostrar as convergências entre as línguas materna e adicional ajuda no engajamento dos alunos no aprendizado e no desenvolvimento do pensamento crítico.


Com esse desenvolvimento, é possível o aluno compreender os julgamentos que existem para certos discursos, o porquê de determinadas variedades serem privilegiadas etc. e questionar tudo isso, utilizando a linguagem como instrumento de mudança — pois também saberá seu papel no mundo e impacto de sua fala na sociedade. A linguista ressaltou a importância de reconhecer e valorizar a diversidade linguística, evitando estigmatizações e promovendo uma abordagem inclusiva em sala de aula. Como exemplo, foi mostrada a dicotomia entre inglês americano (ou estadunidense) e inglês britânico, que acabam excluindo as outras formas de língua inglesa e trazendo uma falsa sensação de homogeneidade desses dois inglês, desconsiderando os milhões de falantes deles e multiplicidade de países que integram o Reino Unido. Tudo isso corrobora com o conservadorismo linguístico que coloca a língua — enquanto norma — de um lado e as variedades de outro, sendo que todas as variedades é que formam a língua.


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