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Resenha da Mesa-Redonda parte II - professor João Tavares

O último palestrante da nossa mesa, o professor João Carlos Tavares Silva, que possui mestrado e doutorado em língua portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, aprofundou o debate acerca dos desafios do ensino da morfologia em nossas escolas. Em sua fala focada no processo de morfologia e ensino, ele traz para a discussão, os dois grandes processos de formação de palavras – derivação e composição- e como as instituições se limitam a abordar somente eles.

Com efeito, sua apresentação começa com a abordagem acerca dos tipos de processos morfológicos existentes na língua portuguesa do Brasil, os concatenativos e os não concatenativos, e a forma como tais processos são apresentados em sala de aula, em especial, derivação e composição, ambos concanetativos. Porém, o professor João Carlos Tavares Silva pondera que o fato de ser discutido somente os processos concanetativos nas instituições de ensino não é por culpa do professor, visto que este, infelizmente, norteia seu trabalho sobre tal assunto com base em material didático voltado apenas para a abordagem dos mencionados processos.

Por outro lado, o professor, ao comparar como tal assunto é tratado em gramáticas conhecidas por estudantes e professores da língua portuguesa, destaca a gramática de Evanildo Bechara, que é a mais aprofundada na relação entre morfologia e os processos não concanetativos, a exemplo do cruzamento vocabular. Porém, Bechara, ao colocar em uma seção à parte tal relação, acaba dando um tratamento secundário ou “marginal”, de acordo com as palavras de João Carlos. Sendo assim, além dos dois grandes processos morfológicos abordados na escola, teríamos os processos considerados irregulares, chamados de não sistematizados, os quais foram, igualmente, foco do nosso palestrante na mesa redonda.

Na verdade, João Carlos Tavares Silva passa a mostrar como processos, a exemplo do cruzamento vocabular, não seriam irregulares. Para tanto, levanta a pergunta: O que seria um cruzamento vocabular? Responde, assim, que se trata de um processo não concanetativo, que forma uma palavra a partir da junção de duas palavras diferentes, sem que tal processo se caracterize, no entanto, como um tipo de composição. O cruzamento vocabular, por estar muito presente no dia a dia de nós falantes do português no Brasil, aparece em diversos gêneros textuais. Ou seja, de secundário ele não tem nada, o que comprova o argumento levantado pelo nosso palestrante anteriormente. Além disso, o cruzamento vocabular está a serviço da denominação de situações ou coisas subjetivas, como exemplo a palavra shippar.

Segundo o professor, como uma análise de palavras em que há o cruzamento vocabular é feita superficialmente, torna- se comum chamar essas palavras de assistemáticas. Contudo, se adotarmos um olhar mais aprofundado sobre o comportamento dessas palavras, podemos perceber que o falante é quem decide onde será feito o corte para junção dos vocábulos no âmbito do cruzamento vocabular, respeitando, para tanto, o padrão silábico do nosso português. Vale ressaltar que, de acordo com o professor José Carlos da Silva, esses processos só puderam ser compreendidos através de estudos realizados a partir de modelos teóricos de interface entre morfologia- fonologia e também a partir de avanços nas teorias fonológicas. Isso porque como esse é um tipo de formação de palavras que depende de informação fonológica, temos que entender a assistematicidade de certas palavras, ou ainda, essa "bagunça", como afirma o professor, nos debruçando sobre as categorias prosódicas, como a sílaba.

O professor menciona dois tipos de padrões de cruzamento vocabular, o estranhamento lexical e a combinação truncada. Para tal, analisa os seguintes exemplos de palavras: “carnatal” e “selemengo”, respectivamente, dizendo que, na primeira, há o compartilhamento de material fonológico; e, na segunda, que tudo que está antes da tônica na P1 é preservado e tudo que está a partir da P2 é preservado.

Nosso renomado palestrante também aprofunda sua fala ao analisar exemplos reais desses dois padrões e por nós conhecidos, inclusive no dia a dia, presentes em tirinhas como da Turma da Mônica, sugerindo, dessa forma, que se adote a discussão acerca desses padrões em sala de aula. Ele conclui, assim, que o uso do cruzamento vocabular está muito presente em textos que professores estão usualmente acostumados a trabalhar nas aulas para gerar certo humor nas atividades de leitura. Ou seja, tal fenômeno morfológico é algo que pode ser trabalhado de forma dinâmica com os alunos, ainda que o material didático que é oferecido pelas escolas não o privilegie. Sendo assim, o palestrante defende que a relação entre morfologia e ensino pode se basear no tratamento desse tipo de formação de palavras, lançando mão, para tal, da gramática como suporte para trabalho com o texto.


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